22: Um segredo

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☆☆☆
Além da vida








     As especulações sobre Lindsay a "madame milk shake" como foi apelidada rolaram pelos corredores durante a troca de horário, todos vibraram de uma forma maldosa dela, zombaram o quanto puderam e Tita tinha virado a heroína da história que fez o que ninguém mais tinha corajem para fazer, por Lindsay em seu lugar... mas eu não achava que isso fosse necessário, que precisava realmente de tanta crueldade para destrona-la, no banheiro as meninas tinham formado um grupo de discussões anti-Lindsay que ganhava cada vez mais adeptos... elas não paravam de rir de Lindsay, as chacotas ficavam cada vez mais cruéis... pesadas demais, isso me deixava mal por ela, mal porque eu sabia o que era ser alvo de manifestações desagradáveis de desafeto e desdém.
-Meninas não acham que estão pegando um pouquinho pesado demais?. Perguntei, não que eu fosse com a cara de Lindsay...  mas eu não via nada de bom naquela humilhação.
-Não!. Disseram todas elas ao mesmo tempo e me olharam como se eu tivesse defendendo um crime hediondo.
-Hellooo... ela merece muito mais. Disse Mary sentada na bancada de mármore enquanto eu lavava as mãos.
-Exatamente... mas tudo a seu tempo, não gosto de pisar em cachorro morto no caso dela piranha morta. Disse Scarlet enquanto passava uma generosa camada de delineador nos olhos.
-Está bem, vou ficar calada. Disse a elas enquanto abria a lata de lixo para jogar o papel toalha que eu havia secado minhas mãos e então para o meu desespero uma aranha subiu no meu braço do nada... eu gritei.
-Tita!!!... tira! tira! tira!. Tita pulou de onde estava sentada e veio correndo até mim, ela pegou a aranhazinha na mão e a jogou dentro da pia abrindo a torneira, a aranha rodou na pia com a água até descer pelo ralo.
-Que descanse em paz...
-Você tem medo de aranhas?. Perguntou Lise, olhei para ela apavorada... ela quase riu... mas parou quando olhou para mim.
-Medo é pouco... ela tem fobia. Disse Tita acariciando meu rosto tentando me acalmar.
-Respira, ela já foi. Disse ela, eu assenti ainda arrepiada.
-Alguém viu para onde Lindsay foi? Não vejo ela desde o refeitório. Comentou Scarlet ajudando-me a caminhar para fora do banheiro com Tita enquanto eu olhava a pia por sobre o ombro.
-Não sei e pouco me importa saber. Disse Tita, as outras meninas nos seguiram.
-Eu a vi correr pelo corredor acho que deve ter ido embora... eu iria. Disse Lise, elas começaram a rir mas pararam quando viramos no corredor para ir para a próxima aula e tinha uma garota gótica parada bem no meio do caminho, o olhar dela para nós nos fez parar... era a primeira vez que eu a via ali, devia ser novata.
-Querem que eu faça uma profecia do que irá acontecer agora? Vocês estão rindo agora mas tomem cuidado, só ri de uma cicatriz quem nunca foi ferido, tenham isso em mente, porque ela vai querer se vingar de todas vocês. Disse ela, havia uma advertência em seu tom de voz que me fez tremer.
-Cala a boca Loren. Disse Scarlet ríspida, passando por ela e esbarrando em seu ombro, as outras se desviaram a quase um metro de distância como se tivessem algum tipo de medo... Tita me segurava pela cintura quando passamos pela garota, ela olhou em meus olhos seriamente, nossas mãos se esbarraram sem querer e ela se afastou de mim no mesmo segundo em que sua mão tocou a minha, olhei seu olhar assustado e paralisado no meu rosto e parei.
-O que foi?. Perguntou Tita quando parei, Loren se afastou de mim mais alguns passos e sorriu olhando o chão... não entendi porque ela começou a chorar, Tita me puxou e eu comecei a andar novamente.
-Que garota mais estranha, quem é ela?. Perguntou Tita voltando a me arrastar com ela.
-É a neta da bruxa tentando nos assustar só isso. Disse Scarlet desfilando no meio do corredor como se estivesse em uma passarela com sua saia azul balançando com o movimento exagerado de seu quadril... ela era líder de torcida, a capitã depois que Sara foi embora e Lise e Mary eram suas seguidoras, elas andavam em um triângulo perfeito, Scarlet na frente e as outras duas ao lado um pouco mais atrás, e Tita e eu bem, bem atrás.
-Neta da bruxa?. Perguntei recordando-me de minha doce Maria que me criara desde cedo, ela era uma bruxa.
-A vó dela é uma senhora que vive nas ruas como uma mendiga, acho que deve ter enlouquecido... que pessoa em sã consciência abriria mão da vida que tinha para pedir esmolas nas ruas?. Perguntou Scarlet, as garotas riram, pensei no que ela disse, na senhora que pedia esmolas que vira naquele dia, parecia ser a única moradora de rua da cidade inteira, mas o que Scarlet quis dizer com abrir mão da vida que tinha? Eu tambem pensei em Loren a caminho da aula... se ela e sua avó também eram bruxas... em que mundo esquisito eu fui me meter? Primero aquela coisa depois vampiros e agora bruxas... o que mais esta faltando?
      A aula da senhora Amy já tinha começado, Tita e eu ficamos com os únicos lugares que sobraram, justo de frente para a mesa da professora, era o último lugar que eu escolheria no mundo, a semanas venho tentando evitar qualquer conversa com a professora de filosofia, depois da tarde em que fui a casa de Adam pela última vez, ainda não tinha me esquecido o que aquela garota Jolie tinha insinuado sobre Adam e ela terem algum romance, eu não sabia se era mesmo verdade talvez fosse por isso também que eu estava lutando para ficar longe de Adam, obviamente eu não passaria pela atitude constrangedora, humilhante e petulante de perguntar a ela qual era a verdade.
     E apesar disso ela tem sido complacente comigo, os trabalhos extras que me dera até agora têm sido fáceis de fazer, ela estava sendo boa comigo, me tratava com mais gentileza do que a qualquer outro aluno, por isso não queria descer ao nível da indelicadeza quando ela me convidava para tomar um chá em sua sala e conversar, ela percebia minha hesitação mas ela nunca me deixava escapar...
-Como vai querida?. Perguntou Sra. Amy aproximando-se de minha carteira.
-Estou bem obrigada. Disse hesitante, ela suspirou.
-Acho que temos uma conversa que já foi adiada por tempo demais minha Bella. Disse ela, a olhei com certa relutância... o que será que ela queria?
-Quer que eu entregue o trabalho...
-Não é sobre a escola... fique tranquila mas não posso deixar que esse silêncio vá longe demais, não gosto desta quietude, sinto que há algo que a esta incomodando e tenho ciência do que pode ser... não quer conversar? Porque não passa na sala dos professores depois da aula... ou posso lhe dar um carona para casa?. Perguntou ela gentilmente... ela sempre fora tão gentil comigo, não havia falsidade em seu olhar... ainda assim fiquei oscilante mas concordei levemente com a cabeça curiosa com o que ela havia proposto.
-Estarei esperando. Disse ela encaminhando-se para a frente da turma, para o quadro negro e escreveu o tema de nossa aula.
     A aula de hoje abordava um tema mais leve e inusitado que gerou uma onda de controvérsias na turma, "Como aprender a Morrer" esse era o tema.
-Alguém saberia me dizer como se preparar para um momento desses? Alguém?...
-Acho que não existe forma de se preparar para uma coisa sem saber quando vai acontecer... é imprevisível senhora Amy. Disse Emily no fundo da classe, a estudiosa e curiosa Emily Salles.
-Sim realmente não há como termos a certeza da data certa, alguns podem não sentir nada, outros podem sentir alguns sensações como sinais de presságios, são pessoas que têm uma afeição e sensibilidade maior com a vida creio eu, mas outros como a maioria está no escuro sem a menor noção de como nem quando vai acontecer... isto é um leve motivo para histeria não acham? Não se sentem preocupados com isso? Com a morte? Não sentem medo?. Perguntou a professora sentada na beirada de sua mesa com as pernas finas cruzadas... mais uma vez não pude deixar de notar o quanto ela era encantadora, parecia conseguir prender qualquer coisa com seu olhar dócil e carismático.
-E porque eu deveria me preocupar?. Perguntou Loren a professora sentada do outro lado da sala sem olha-la.
-Exatamente isso... acha que não há motivo para preocupações? já se perguntou qual será o destino da sua alma após a morte? Para onde ela vai? Céu ou inferno? Isso realmente existe? Ou nós sempre voltamos? Para outra vida? Outra forma física mas com o mesmo espírito? Ou continuamos da mesma forma que partimos? O mesmo corpo, o mesmo espírito, a mesma alma juntos novamente para terminar algo que começamos ou viver aquilo que não conseguimos viver porque até então a morte tinha nos tirado o direito à vida. Disse a professora, ela olhava para mim, o olhar enigmático fitando o meu por longos segundos.
-Outra teoria sobre além da vida senhora Amy?. Perguntou Emily, até então a única interessada na aula.
-E porque não? Não há como parar o processo de raciocínio, nossas mentes estão em constante atividade... sempre se perguntando o porque, criando novos argumentos, outras teorias... mas desta jamais obteremos uma resposta, só nos restam a dúvida e a especulação sobre o depois... mas imaginem por um lado, se céu e inferno existem porque existe reencarnação? Por exemplo se uma alma ruim reencarna este modelo de um lugar para punição, o purgatório não é mais válido... porque se às almas ruins podem reencarnar para que serve o inferno afinal? Para que existiria céu e inferno se sempre voltamos a vida? Claro que isso põe em questão a própria existência de Deus... para que ele serviria? Apenas a entidade benevolente que nos protege do mal que há? Então se existe o mal e o bem também teria que existir Deus, assim como céu e o inferno, ou talvez então as "Almas sem solução" vão para o inferno e as que ainda tem concerto voltam a vida... ou todos nós voltamos para corrigir erros passados, para evoluir como uma parcela considerável acredita.
-Mas porque voltariamos então? Só para consertar os erros passados?. Perguntou Loren em um tom de zombaria, ela não olhava para ninguém e nada além da caneta que ela batia ansiosamente no caderno.
-Também, pense que no momento de sua morte existiam coisas que não foram terminadas ou ainda nem se quer começaram, algumas inacabadas outras por concluir, todos nós em algum momento em nossas vidas mesmo que as vezes pensamos que nossas vidas não valham de nada teremos uma participação especial e importante em algum momento, mesmo que sejam pequenas coisas e que não sejam para nós mesmos... pequenas ações que ao nossos olhos não fazem nenhum sentido mas farão para alguém, temos bem presente em nossos espíritos que para tudo há um motivo porque se não houvesse nossas vidas não significariam nada, qual seria o sentido da vida se não tivéssemos alguma representatividade em algum momento?. Perguntou Sra. Amy, a turma ficou em silêncio.
-Imagem um escritor agora, ele está desanimado com a propria existência, se questiona se deve ou não continuar escrevendo, ele se pergunta se isso servirá de algo, quer parar mas não consegue, mas tudo que ele escreveu será valioso demais para alguém que ele não conhece ou é algo extremamente essencial para si mesmo... e mesmo que seja após a morte, suas palavras estarão firmes no coração desse alguém mesmo que esse alguém seja ele mesmo... como Jesus, seus ensinamentos foram cruciais para que a humanidade não se perdesse de si mesma, ele é a voz que está em nossos corações, ele se sacrificou por nós e depois de tantos séculos os ecos de suas palavras ainda são ouvidos até hoje... imaginem o homem simples que era, que ninguém pensaria que uma legião ainda o escutaria mesmo após sua morte... e assim voltamos seja para dar fim a uma missão pessoal ou só para que simplesmente sejamos felizes, as vezes a morte interrompe de forma cruel certas coisas que não deveriam ter terminado. Disse ela, olhando para mim brevemente... até Loren se tornar uma ouvinte mais participativa de repente.
-Professora? Mas e quanto o monstro que violentou sua vítima inocente? O que isso servirá para ela? No que isso ajudaria? Isso ajuda em alguma coisa porque eu não vejo nem um bem nisso... como posso achar que a violência servirá de algo para mim? Que a fome lá fora servirá de ensinamento para alguém?. Perguntou ela, a revolta era facilmente identificável em sua voz, eu a olhei com mais atenção.
-Loren... adoro ouvir suas perguntas e as respostas nem sempre são fáceis... a crueldade existe em toda parte, o que importa não é a dor que isso gerou mas o que aprendemos com ela, os massacres, as guerras violentas, os campos de concentração em uma época distante que levaram a morte milhares de pessoas, milhares de inocentes é revoltante... tudo isso é muito triste e doloroso mas pense desta forma se o ódio for a única coisa que carregaremos nos nossos corações até a morte, então não vivemos, e se a vida não tiver nos ensinado nada, se a dor não nos motiva-se a seguir em frente e se ódio, a raiva o rancor for o que levamos para o túmulo nossa existência não teria sentido, nossas almas estariam tão doentes que não seríamos mais bons e viveríamos nas trevas da consciência torturada. Disse a professora compreensiva.
-Devo seguir em frente então e dar as costas para tudo isso?. Perguntou Loren, a professora se levantou e foi a mesa dela.
-Não... porque apesar de todo mal, não podemos dar as costas para quem somos, para quem nos tornamos depois das tragédias é por isso que cada um deve aprender da melhor forma possível enquanto estamos vivos o valor da vida, para que a morte não seja um processo amargo mas que seja mais leve, não estamos preparados para o que vem depois dela... no entanto, absorvam o que puderem das coisas boas da vida, dos sentimentos mais alegres, dos ensinamentos úteis para que todo esse aprendizado nos faça o melhor que pudermos ser. Disse Sra. Amy, Loren finalmente a olhou e seu olhar grave de um ódio profundo chocou a todos.
-E só nos resta aceitar o inaceitável ao que parece, o absurdo, o cruel, o nefasto, o profano... isso é repugnante. Disse a estranha Loren levantando-se da carteira em um ímpeto e marchando furiosamente para fora da sala, a porta bateu e todos se assustaram.
-Nossa ela levou mesmo à sério. Comentou Tita ao meu lado.
-Até eu ficaria revoltada se tive a vida dela. Disse Scarlet, eu me virei para a carteira atrás da minha a olhei confusa mas Tita perguntou primeiro.
-Porque?
-Ela é fruto de um estupro... o canalha nunca a reconheceu como filha... acho que ninguém a aceita de verdade. Disse ela, olhei a porta... como poderia me sentir depois disso?
-Isso é horrível. Lamentei olhando o quadro, a professora Amy sorriu para mim sem graça e veio a minha mesa.
-Bella poderia ir ver como está Loren por favor? Acho que ela precisa de uma amiga. Disse a professora em meu ouvido, eu assenti e me levantei, segui direto para o banheiro sem saber se ela estaria lá... mas era o único lugar que eu escolheria se fosse para ficar sozinha, os seguranças me viram passar enquanto escapulia para a quadra... o banheiro feminino da quadra em geral era pouco movimentado, ninguém aparecia para fazer educação física, porque será...?
      Mas meu palpite estava certo, tinha setenta por cento de certeza que ela estaria lá e estava, ela estava lá e mais ninguém... sozinha de cabeça baixa abraçando os joelhos... exatamente a mesma postura que escolhia quando estava chorando, me sentei ao lado dela... Loren e eu éramos as únicas da escola cujo estilo era especificamente estranho e fechado, as roupas como se estivesse de luto, a maquiagem que descatava os olhos... no caso dela pelo menos, ela não era tão nociva na maquiagem quanto eu, a dela era mais leve, sem muito rímel, sem sombras escuras pesadas cobrindo toda a pálpebra como eu preferia, ela era mais delicada, mas os lábios estavam generosamente pintadas por uma camada aveludada de vermelho escuro que deixavam seus lábios cheios bem mais evidentes, muitos pensam que todos os góticos são iguais, e somos, bom pelo menos em um único detalhe as cores escuras que usamos, mas é bem mais do que isso, existem certos detalhes, peculiaridades que nos fazem diferentes um dos outros afinal ninguém é igual a ninguém... alguma coisa terá de ser diferente. Acho que nossas preferências, de Loren e eu podiam ser facilmente observadas, a começar pelas roupas, nela notei que sua roupa era bem passada, metodicamente passada, o colarinho de renda, as mangas compridas, até as fitas finas de seda, enlaçadas como uma delicada gravata de borboleta no pescoço fino tinham sido perfeitamente passados, o cabelo mais liso e arrumado, sem acessórios, calças justas, um corpete de renda demarcando a cintura fina... ela perto de mim era a imagem do perfeccionismo em pessoa enquanto eu era a esfarrapada e amarrotada de calças rasgadas como se tivesse acabado de acordar, mal lavado a cara e vindo direto para a escola... o que não era muito mentira no momento considerando a realidade de frente para o espelho... ela era a princesa gótica toda arrumadinha e eu era a mendiga gótica arruinada com o lápis de olho borrado de uma maneira deplorável.
-Eu estou... uma catástrofe... horrível. Disse olhando o espelho, Loren fungou e olhou o espelho por cima do ombro.
-Pelo menos o cabelo não está tão ruim assim... a maquiagem não da para salvar mesmo... posso?. Ofereceu ela, colocando-se de pé com um estojo nas mão... uma necessaire, ela limpou os olhos com cuidado com um lencinho branco para não borrar, eu me sentei e Loren começou a retirar a minha maquiagem com um lenço descartável e demaquilante, eu lavei o rosto e ela secou e começou com base, depois o pó compacto, espalhando com o pincel levemente, pediu que eu fechasse os olhos e senti uma linha fria sendo traçada em minha pálpebra por um pincel mais fino.
-Pronto... perfeita. Disse ela eu abri os olhos e olhei o espelho estava... decente de um jeito muito bom.
-Seus olhos são lindos e estranhos. Disse ela, eu a fitei.
-Estranhos?
-Quero dizer incrivelmente lindos... a cor, a forma como não se mistura... o azul profundo ao fundo e essas veias nas íris de um tom estranho de roxo ou lilás... seus olhos são lindos. Disse ela enquanto eu franzia a testa para o espelho.
-Ah... bom, obrigada pelo elogio e pela reconstrução facial também. Disse, ela riu.
-De nada... como se sente?
-Bem mas... acho que era eu quem deveria fazer essa pergunta, não é?. Perguntei, ela suspirou.
-Estou bem agora obrigada... poder chorar é um grande alívio... algo como uma limpeza espiritual... chorar ajuda, já pensou como seria se não pudéssemos chorar?. Perguntou Loren, eu pensei em Adam... seus olhos com uma dor mortal ferindo-o impiedosamente quando ele me olhou da última vez... ele não chorava embora o tenha visto chorar quando ele falava com a Sra. Amy, a última vez em que visitei a residência Lichtenfels.
-Também acho que sim... e acho que sei o porque. Falei, ela jogou o estojo na bancada e se sentou.
-Scarlet é mesmo um dos seres mais detestáveis que conheço. Disse ela, o ódio dela no olhar castanho avermelhado apesar de desdenhoso tinha uma agressividade que me fez encolher.
-Não se preocupe com isso, não tiro conclusões precipitadas a respeito de outras pessoas... não saberia dizer se o que ela disse é verdade e não acho que é uma boa ideia acreditar em tudo que ouço. Falei chegando mais perto dela balançando os pés no ar.
-Scarlet não é mentirosa mas é desagradavelmente fofoqueira... e então não está com pena de mim?
-A culpa não foi sua.
-E de quem é então?
-Porque fica procurando os culpados? Alguém para acusar?. Perguntei, ela olhava duramente o vazio.
-Acho que seria justo se alguém assumisse a responsabilidade... admitir a verdade.
-Nem todo mundo tem consciência do que faz... nem todo mundo consegue sentir remorso, culpa pelos crimes que cometeu... não podemos exigir que ninguém ame e se importe com conosco, é necessário humanidade para se sentir culpa e para se perdoar. Falei, ela balançou a cabeça e olhou com deboche para mim.
-Porque as coisas são assim?
-Não sei mas o que você tem que saber é que não se pode esperar pelo que não vai acontecer... ele não se arrepende não é?. Perguntei, não queria dizer a palavra pai para incitar ainda mais sua revolta.
-Não.
-Onde ele está?
-Imagino que bebendo a essa hora... minha tia não gosta que eu vá atrás dele mas eu queria poder entender o porque.
-Acha que ele tem concerto?. Perguntei, ela riu com raiva.
-Como você disse não posso esperar pelo que não vai acontecer... ele é um caso perdido.
-Algum dia ele vai se arrepender.
-Talvez, no momento de sua morte... talvez.
-Talvez, quem sabe? Que tal voltarmos para a aula?. Perguntei, ela se levantou.
-Acho que não podemos fugir disso. Disse ela resignada e fomos até a porta.
-Porque a chamam de bruxa?. Perguntei virando-me para ela.
-O que?
-Sua avó... porque a chamam de bruxa?. Perguntei, seu olhar desmorou um pouco e o ódio ressurgiu com o dobro da intensidade.
-Elizabeth enlouqueceu depois que minha... mãe morreu, ela renegou tudo que tinha e foi viver nas ruas.
-Eu sinto muito... sabe como posso encontra-la?
-Porque quer encontra-la?. Perguntou Loren, eu estanquei o que poderia dizer?
-Ela me disse uma coisa uma vez... e eu queria perguntar a ela o porque.
-Você não pode encontra-la... ela encontra você, Elizabeth é uma pessoa muito difícil de ser encontrada quando não quer que a achem. Disse ela com desgosto.
-Porque você só a chama pelo nome?
-Porque ela não consideraria uma filha bastarda como neta, minha mãe... Lorelayne engravidou cedo e minha vó a expulsou de casa, ela só descobriu que a filha tinha engravidado de um... estupro quando minha mãe morreu no parto, eu vivo com minha tia Emily Watson. Disse Loren, pude perceber como aquilo tudo era difícil para ela enquanto seguiamos para a saída ela parou.
-Espere, me esqueci da necessaire. Disse ela, Loren voltou para dentro do banheiro, eu me encostei do lado de fora quando de repente uma mão me puxou.
-Oi amorzinho sentiu a minha falta?. Perguntou ele, meus olhos se arregalaram de susto e surpresa quando percebi quem era, minhas lembranças de uma tarde alaranjada na porta de um bar vinheram a minha mente, ele era um dos caras maus que Nicolay havia socado e nocauteado, eu tentei gritar mas ele colocou um pano em minha boca, o pano tinha um odor estranho, forte demais e a medida que respirava contra ele uma sonolência que não podia resistir me arrastou para a inconsciência...

A Bella e a FeraWhere stories live. Discover now