O Tabuleiro do Destino

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Raphael olhava intrigado para o seu tabuleiro. As peças tinham que estar em lugares específicos com seu destino já guiado por vários fios. Na verdade era até complicado prever os destinos, mas esse tabuleiro nunca errava. Era o Tabuleiro do Destino.

Um tabuleiro antigo dado a ele no inicio da criação. Com ele era possível traças todos os destinos possíveis de um ser até o fim de sua existência. Isso mesmo, existência. Era falho dizer que o tabuleiro poderia guiar uma pessoa por toda a vida, afinal a morte ficava apenas na metade do tabuleiro, após ela, havia outro plano, um novo caminho até o lugar onde todas as almas cumprirão a missão para qual elas foram criadas. Alguns seres nem pela morte passavam, por que não eram seus desígnios.

Cada peça simbolizava uma criatura, um ser, e quando essa criatura, tomava uma decisão que mudaria seu destino, a peça mudava também. Era um artefato tão poderoso que se Raphael mudasse por conta própria uma peça de lugar, automaticamente ele mudaria o destino daquele ser. E isso tem acontecido durante toda a historia da criação. Ele era o anjo da Vida, da cura e do destino. O tabuleiro era seu, mas alguém movia as peças.

Ele observava cada peça que ali estava. Quando começou eram apenas duas, nesse momento eram bilhões. Havia ainda algumas peças marcadas, afinal essas já tinham um destino descrito, mas eram exatamente elas que sempre eram movidas.

Raphael não ficava ali sozinho. Em sua frente estava sua companhia. O tabuleiro era imenso e Raphael só alcançava até a metade. Até onde ficava a morte. A partir dali seu companheiro continuava a acompanhar as peças. Era uma criatura sinistra. Um ser de olhos escuros e sorrio maligno. Às vezes ele se divertia adoecendo as pessoas, e Raphael, tentava cura-las. Quando não trazia a peste, trazia a fome. Mas Raphael tinha peças que precisava acompanhar, destinos que precisava manter nos eixos por isso, não conseguia curar a todos, alimentar a todos.

Enquanto observava as peças, sob o sorriso de seu companheiro, ele repassava o destino de cada um e tentava ver onde as peças foram movidas.

Começou então com Adão e Lilith. Eles deveriam viver juntos, criar e procriar. Mas Lilith por escolha se tornou rebelde. Demiurgo Interviu, até ai não havia a morte no tabuleiro. Mas após a revolta de Lilith, Demiurgo adicionou esse destino no meio do tabuleiro, além de um percurso final onde assim que a peça chegasse deveria ser colocada em um recipiente. Até ai tudo dentro do previsto, Lúcifer caiu e foi para o abismo. Mas a peça de Lúcifer e Lilith foi movida e eles se encontraram e se apaixonaram. Isso não estava nos planos. Mas enquanto mantivesse sobre Lucífer a alcunha de traidor, essa falha podia ser mantida sem problemas.

A queda de Lúcifer rendeu a ele a alcunha de traidor. Mas a peça de Miguel foi movida para a linha da vingança, isso também não estava nos planos. Ele sucumbiu à loucura e criou um caminho de sangue e dor por onde passou. Separou as pessoas na antiga Babilônia. Queimou humanos em Sodoma e Gomorra. Assassinou crianças antes do Diluvio. Matou um egípcio apenas para criar um salvador e depois afogou um exercito pra provar seu poder. Faz a terra engolir pessoas apenas por que foram desobedientes. Ajudou a incriminas Messias o filho de Demiurgo. Matou um anjo e um demônio que se apaixonaram apenas com o intuito de destruir seu filho. Agora Batalhava contra Lucífer por vingança.

Agora essa peça é interessante  pensou Raphael  O filho de um Anjo e um Demônio. Um Gênese, disposto a vingar seus pais. Nascido em um pandemônio após a morte de Messias, ele ficou órfão após o assassinato de seus pais. Sobreviveu devido a uma magia que foi lançada pelo sacerdote que deu abrigo a seus pais. Buscando por vingança se aliou a Samael para que pudesse controlar todo o seu poder.

Com um sorriso Raphael já sabe como consertar a falha que ocorreu com Miguel. Alguém que sabe quem matou os pais desse Gênese conta pra ele que foi Miguel. Pronto. Ele mata Miguel e sua vingança é concluída.

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Mas existe outra anomalia ainda maior.

Samael.

Foi criado como a ira divina. Depois colocado como guardião do fruto do conhecimento e aliciou Eva, a segunda esposa de Adão, a comê-lo. Após o fato voltou ao Céu e foi designado como anjo da guarda de uma mulher na terra. Aqui as coisas perdem o controle. Sua peça de alguma forma foi ligada ao amor. Apaixonando-se por uma humana ele gerou um filho. Para consertar isso Raphael colocou a morte de seu filho em seu destino. Mas ele se disfarçou de demônio e enganou o próprio Criador. Essa é a maior anomalia. Não tem um fio que possibilitasse isso. Demiurgo é onisciente, deveria saber que estava sendo enganado. Mas sua peça foi colocada da linha de sucesso. Isso não impediu a morte de seu filho é claro. E por isso sua linha tinha voltado ao lugar. Mas outra vez sua peça apareceu na linha da vingança. Para poder salvar seus irmãos acorrentados ele forjou alianças com seres mitológicos, entre eles as fadas. Mais uma vez uma paixão. Ele se apaixonou por alguém que conheceria apenas no futuro, filha de uma fada. Não era isso possível. O fio foi puxado do futuro para o passado. Criando um paradoxo inexistente. Enquanto o anjo tentava entender como isso aconteceu, seu companheiro mantinha um sorriso alegre. Como quem é o único a entender uma piada mal contada. Raphael tentou mudar esse destino de Samael, fazendo dele escravo das fadas por mil anos, mas um fio de persistência e sanidade estava ligado a ele. Tentou alterar varias vezes o caminho entre Samael e a filha da rainha das fadas, mas não conseguiu. Samael a procurava de forma insistente. Apaixonaram-se e geraram filhos. Crianças incrivelmente poderosas que desequilibrariam a batalha do apocalipse. Então a única coisa que pode fazer era aumentar o amor dele por suas filhas e sua esposa a tal ponto que não as deixariam participar. Assim a batalha seguiria o rumo correto.

Uma anomalia que desequilibrou muita coisa também foi a morte de Abel. Até  o momento não havia morte no tabuleiro, mesmo tendo sido escrito, não era concreto. Mas o assassinato adiantou  o processo. Eles não tinham onde colocar Abel. Então ele cruzou o seu destino e o de seu companheiro a Abel. Ele prometeu que Abel seria salvo por Messias. Mas quando o destino de Messias e o de Abel se cruzou, o fio de salvação de Abel havia sido cortado. Sendo Assim ele só poderá ser salvo no final.

Caim foi amaldiçoado com a imortalidade, isso o impediria de atravessar a casa da morte no tabuleiro indo para o destino final. Mas quem cruzou o caminho dele e o amaldiçoou? As peças mostram que foi Raphael, mas ele não se lembra de ter feito isso.

Messias amaldiçoou Isaque e por isso ficou preso no inferno, mas quem ligou a linha da Ira a ele?

Foi à maldição de Isaque que o levou a ser preso no Templo que era controlado por Miguel. Isaque contou a Miguel sobre o Gênese, e por isso deveria ter ficado preso por toda a eternidade em um mausoléu de pedra. Mas alguém contou a Gabriel como liberta-lo. Quem foi? Mais uma vez o tabuleiro mostra que foi ele, mas Raphael não saiu dali. E por isso o cavaleiro da morte será criado em breve.

Raphael ainda tinha varias peças fora do tabuleiro.

Leviatã, Behemoth, Ifrit e Tiamath.

Havia alguns que ele nem sabia o nome. Como aquele que governava o inferno por traz de Lúcifer ou Aquele que estava preso no Limbo.

Raphael com as mãos na cabeça sentia-se perto de surtar. Não, ele não poderia surtar. A loucura não estava ligada a sua peça. Ou estava?

Seu companheiro ria com alegria quando Raphael percebeu ter perdido o controle.

- O tabuleiro é meu. Quem esta movendo as peças?

- Sou eu.  disse seu companheiro  Eu movi as peças. Sempre fiz isso. Você só nunca percebeu. Eu fiz Lilith encontrar Lúcifer. Fiz Samael se apaixonar e ter um filho. Fiz Caim matar Abel e depois neguei a sua Salvação. Foi eu que enlouqueci Miguel, e fiz Messias amaldiçoar Isaque. Fiz um anjo e um demônio se apaixonarem apenas pra deixar seu filho órfão. Eu tirei do tabuleiro as peças que estão fora dele.

Seu sorriso maligno denunciava o quanto isso havia sido divertido. Raphael não entendia o motivo de tanta crueldade.

- Por que você fez isso?

- Por que era divertido. Sempre foi. Não queria ficar aqui preso com você por todo esse tempo sem nenhuma distração. Queria rir, ver o amor se tornar em ódio. Amizade virar vingança. Você pode ter o tabuleiro, mas eu sempre movi as peças.

Raphael não entendia o que estava acontecendo. Estava confuso, enquanto em seu coração a raiva aumentava.

- Então foi você que amaldiçoou Caim?

- Não Raphael, foi você.

- Então quem contou a Gabriel onde Isaque estava escondido?

- Foi você.

- Não pode ter sido eu. Eu nunca saí daqui.

- Não se aflija por isso Raphael. Tem mais com o que se preocupar.

Nesse momento Raphael percebeu que sua peça andou até a casa do apocalipse e mudou. Ele estava montado em um cavalo negro carregando uma balança. Enquanto andava, atraia fome e pestes. Tornou-se o terceiro cavaleiro do apocalipse.

- Esse não sou eu.

Gritou Raphael jogando a peça em seu companheiro que ao ser atingido por ela se quebrou.

Raphael estava de frente a um espelho. Sempre esteve. Então se lembrou, ele movia as peças, ele encontrou Caim e Gabriel. Seu destino foi traçado por ele mesmo para que chegasse ate aquele momento.

Então assim como era o anjo da vida ele também era o anjo do sofrimento, assim como curava ele também adoecia. Ele era o anjo do destino mas também o anjo do acaso. Bem e Mal.

Sem saber o que fazer ele se levantou. Pegou sua mascara e sua balança. O cavalo o esperava. Antes de sair olhou para o tabuleiro A peça que ele havia jogado fora, estava em seu devido lugar.

Então ele pensou:

- E agora quem moverá as peças?

Crônicas do Céu e o InfernoWhere stories live. Discover now