Minha amiga morreu de um jeito muito estranho...

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Sabrina Carrington, 25 anos de idade, caiu da escada duas horas e pouco da manhã. Segundo as informações que a polícia conseguiu resgatar do celular, ela estava mandando mensagens pouco antes de tropeçar. Um jeito muito moderno de morrer, certamente, mas nada malicioso. Apenas uma infeliz coincidência. Uma simples tragédia.


Eu fui a última pessoa com quem Sabrina entrou em contato. Eu era a pessoa com quem ela estava trocando mensagens antes de cair. Eu fui a pessoa que, uma semana depois, finalmente tive que encarar o rosto angustiado e confuso de seu marido.

Todos os que foram ao funeral e toda congregação estavam ansiosos por uma resposta - Qual era o assunto de nossa conversa, o que era tão interessante que fez com que Sabrina estivesse perambulando a noite e no escuro, em sua casa, enquanto trocávamos mensagens?

Eu tinha que contar a verdade: Não entendi o que Sabrina estava tentando me dizer. Embora ainda fossemos amigas, mesmo depois de dez anos da nossa formatura, a última vez que tínhamos entrado em contato foi a dois meses antes, quando fomos almoçar juntas. Mas desta vez suas mensagens eram bem enigmáticas, pelo menos. A polícia me deu a conversa que tivemos pelas mensagens transcritas e impressas, para que eu lesse novamente, mas não foi de muita ajuda. Me lembro muito bem daquela noite e já a revivi milhares de vezes; tipo quando fui acordada pela vibração do meu iPhone perto do meu ouvido.

SABRINA: (01:48): E.J? E.J, Estou com muito medo. Estou do lado de fora da sua casa. Como eu vim parar aqui?

E.J: (01:49): Você deve ter vindo dirigindo? Sabrina, que porra é essa? O que está acontecendo?

SABRINA: (01:49): Não, eu não vim dirigindo. E.J, me deixa entrar.

E.J: (01:49): O que foi? O que aconteceu?


SABRINA: (01:50): Você não está me ouvindo bater na porta?! Estou congelando aqui fora! Me deixa entrar!
E.J: (01:50): Deve estar uns 23 Cº e não estou ouvindo nada.


SABRINA: (01:51): Ah, tua campainha também está estragada? Ok, vou entrar pelos fundos. Sua chave extra ainda está no vaso de flor, né?


E.J: (01:51): Espera, tô indo aí.


E.J: (01:52): Sabrina, onde diabos você está?

SABRINA: (01:52): Estou na sua sala, te esperando. Ou será que vou ter subir aí e arrastar essa sua bunda gorda para fora da cama? Sério, E.J, eu estou surtando. Eu não sei explicar como eu vim parar na porra da sua casa agora.

E.J: (01:53): Sabrina, para de brincadeiras. Você não está na minha sala. Se não parar de zoar comigo, vai ver só!

SABRINA: (01:53): Então quer dizer que você não me ouviu derrubar o seu vaso de flor?

E.J: (01:54): Mas que diabos você está falando???


SABRINA: (01:54): Espera aí, deixa eu tentar te ligar. Talvez funcione a ligação agora.



É só isso. Uma ligação de três segundos foi registrada do celular dela para o meu, mas não foi sólida o suficiente para ajudar nas investigações. Quando atendi o telefone as 01:54 da manhã, ouvi uma voz masculina não familiar de fundo, e Sabrina exclamando "E.J!". Ela parecia surpresa e aliviada quando a ligação foi desconectada.

Continuei a mandar mensagens para ela depois desse estranho incidente, mas não recebi resposta até que, bem, até que recebi a polícia na minha porta.O marido dela a encontrou no pé da escada por volta das duas da manhã, pois se acordou com o estrondo dela caindo. Assim como todos os que foram no funeral, os investigadores esperavam que eu tivesse uma resposta para resolver esse mistério. Sabrina estava convencida que estava do lado de fora da minha casa, mas o fato que demora mais ou menos vinte minutos de carro para chegar da casa dela até a minha, provava o contrário. As digitais dela não foram encontradas na porta da frente ou dos fundos, e o único vaso de flor da minha casa estava intacto.


No final, assinaram o caso com acidental e concluíram que ela estava em estado sonambulo (e mandou mensagem enquanto estava nesse estado de sonambulismo). Como as pessoas estavam ansiando uma resposta, todos aceitaram essa justificativa. Depois de um mês, eu também estava inclinada a aceitar essa resposta. Até doze horas atrás.

Doze horas atrás eu acordei com alguém batendo na minha porta da frente.

Minha primeira ideia foi ignorar. Estava gripada para caramba, e não estava com humor para ser acordada no meio da noite. Não ligava se fosse meu vizinho vindo me avisar que minha casa estava pegando fogo. Eu esperaria até que os detectores de fumaça começassem a apitar antes de mover um centímetro do meu corpo para sair da cama.

Dei um pulo quando ouvi o som de vidro quebrando, meu corpo se preparando para a ideia de ter um invasor na minha casa. Me arrepiando com o silêncio repentino que veio depois, me estiquei para pegar o bastão de beisebol que fica perto da minha cama. Sempre fui preguiçosa demais para conseguir uma licença para arma de fogo e também para me registrar em aulas de tiro, e naquele momento me odiei por isso.

Descendo as escadas sorrateiramente, meu coração batia na minha garganta. Eu respirava pela boca, amaldiçoando meu sistema imunológico por me dar uma gripe tão ferrada que não conseguia respirar pelo nariz silenciosamente. Com os ouvidos meio entupidos, ouvi alguém digitando rapidamente, acompanhada com uma voz feminina xingando baixo.


Parei de andar quando tive uma visão melhor da sala de estar. Havia uma silhueta lá. Uma sombra com o rosto iluminado pela luz de um iPhone. Minha voz saiu rouca, parecendo estranha até para meus próprios ouvidos.

"Sabrina?"

Impossivelmente, ela respondeu. Eu vi ela sorrir e gritar meu nome. Veio em minha direção correndo, abrindo os braços para me abraçar, mas-

Quando pisquei, ela desapareceu.


Fiquei de pé no pé da escada por um bom tempo, esperando algo acontecer. Mas no final das contas, foi só isso. Fechei a porta dos fundos que estava entreaberta, com aquele frio absurdo de -5 Cº, depois varri os cacos do de vidro do vaso de flor que estava no chão da cozinha. Liguei todas as luzes da casa e a TV também. Esperei até meio dia para ir almoçar em um restaurante, onde fiquei sentada quase o dia inteiro, repensando nos últimos minutos da existência de Sabrina Carrington.



Em algum momento antes de 01:48 da manhã, Sabrina acordou e começou a andar pelo segundo andar de sua casa. De alguma forma, ela apareceu na minha porta, por apenas instantes. Não existe explicação cientifica para uma teletransportação de cinco minutos para o futuro, ou nenhuma razão lógica de o porquê algo tão fantástico e imprevisível aconteceria com a Sabrina Carrington que fez a cadeira de Biologia comigo. É com um gosto amargo em minha boca que digo que Sabrina deu um tropeção acidental para o futuro e, infelizmente, conseguiu dar o passo de volta para o passado.

Ghost StoryWhere stories live. Discover now